ENQUANTO EU PUDER SONHAR
OUTROS
MAYARA LOPES DA COSTA


Eu sonho com um mundo em que a maioria luta pelas minorias. Mas também com um mundo em que as minorias não precisem se curvar, tampouco subdividir-se, onde não nos separemos por núcleos sociais... um mundo onde os negros não levantem apenas a pauta racista, mas também discutam a diversidade de gêneros, e em que a comunidade LGBTQIA+ não aborde apenas a dor que a homofobia gera, mas também lute pela causa das pessoas com deficiências; um mundo onde mulheres não precisem discutir apenas sobre a desigualdade de gêneros, mas também lutem pelas vidas indígenas; um mundo onde os evangélicos clamem pelos judeus e os católicos também pelos mulçumanos. E que todos esses que foram citados também se importem com a sobrevivência dos refugiados.
Eu sonho com um mundo onde possamos dar as mãos uns aos outros sem antes olhar para conferir quem está ao nosso lado; onde nos preocupemos com o meio ambiente e não ignoremos o quanto estamos doentes; onde amemos todos os nossos irmãos e que isso venha acima da competição; onde amemos sem pressa e joguemos para o alto o senso comum, o julgamento, a discriminação, a pequenez de espírito, que neste mundo o poder não valha tanto quanto os nossos sorrisos; que os nossos olhos não deixem de brilhar sob a esperança de dias melhores; que abandonemos o medo de sermos reais o tempo inteiro, deixando a máscara cair.
Pensar em todas essas coisas, sem receio, é o que tem me acalentado e me mantido de pé, então, deixem-me sonhar com elas. Enquanto eu puder sonhar, sei que comigo vocês também poderão imaginar, ainda que não queiram, serão menos tristes quando imaginarem o que é viver num mundo repleto de injustiças não tendo forças sozinhos para algo transformar, e assim precisar viver presos neste mundo de sonhos onde há espaços para criar sua versão da história.
Sei que vivemos em um mundo vazio em que o vil fala mais alto e as sombras querem liderar, onde vivemos praticamente às cegas e o futuro a Deus pertence; sei que nada é justo e existem algemas para nos prender e tesouras para nos podar, mas sou sinônimo de rebeldia e por tudo que estiver ao me alcance irei bradar.
Enquanto eu conseguir fugir, correr, rastejar; enquanto com a minha asa cortada, mesmo sem norte eu puder voar; enquanto dos meus ideais eu me lembrar; e em meio às lágrimas eu puder gritar, se por aquilo que amo o meu coração ainda ferver e pulsar; e também sentido no meio de toda escuridão eu puder enxergar, naquilo que pertenço e acredito irei me firmar; lhes enviando de longe um aceno, com minha alma tornando a despertar pelo que anseio; com as mãos ainda atadas, mesmo que ofegante, com pouquíssimo fôlego ou até sem ar, eu deixo que assistam o quanto ouso imaginar; lhes mostro o quanto é precioso, bem mais que o infinito a capacidade de uma mulher que se recusa a deixar de sonhar.